LEÇA DA PALMEIRA - Como Era, Como Cresceu, Como É....

Leça da Palmeira nem sempre se chamou assim. O seu primeiro nome tem como referência o rio Leça, o LAETÍCIA (segundo alguns autores), “pela alegria que causavam à vista os amenos arvoredos das suas margens”. Na primeira referência histórica, do ano 1081, consta, em galego, “villa Foce de Leza” (vila Foz de Leça). E em 1122 aparece já a inclusão do Orago, também em galego “San Miguele Foce de Leza”. De pouca importância terão sido, para o homem moderno estas referências: quase ninguém as conhece, poucos as terão lido algum dia!
Porém, a partir de documentos de 1211 começam a conhecer-se dados importantes que nos levam a tentar desvendar todo um passado histórico de Leça da Palmeira, alicerçado sobretudo nas origens cristãs dos seus avoengos. Com efeito, já em 1211 o Bispado do Porto recebia anualmente da “igreja de Moroça 2 aureos (maravedis ou morabitinos)”, moeda daqueles recuados anos. Moroça é o nome que evoluiu para AMOROSA, ainda existente e mencionado usualmente pela população leceira, referindo o lugar onde há muitas habitações e escolas, do ensino básico e de música, e foi, afinal, onde teve início a nossa Paróquia. É, portanto, um nome a reter e a procurar conservar na memória das gentes de Leça.
Em 1258, nas Inquirições mandadas fazer por D. Afonso III, já aparece mencionada a “matriz da Vila de São Miguel de Moroça” . Podemos, assim, dizer que a primitiva matriz deve ter sido erigida nos primórdios da fundação de Portugal.
No ano de 1527, no Rol Censuário de D. João III, aparece pela primeira vez a menção de “SÃO MIGUEL DA PALMEIRA”. Segundo opinião do erudito Abade Mondego, que foi pároco desta nossa terra, o nome de Leça da Palmeira deriva dos Palmeiros, peregrinos que vinham da Terra Santa hospedar-se no Bailiado e que desembarcavam na foz do Leça.
Esta nossa Igreja Paroquial terá sido construída entre 1568 e 1578, no reinado de D.Sebastião (provavelmente após demolição da primitiva matriz ? ), pois nas “Memórias Paroquiais” de 1758, constantes do “Dicionário Geográfico de Portugal” no Arquivo Nacional da Torre do Tombo, lê-se: “Há tradição que a mandou fazer o senhor rei D. Sebastião”.
Hoje o povo de Leça pode orgulhar-se da sua Matriz – centro difusor da sua Fé. Com essa Fé, ao longo dos séculos, foram sendo erigidos outros pequenos templos – as 8 Capelas de Leça da Palmeira, onde se podem admirar valiosas imagens muito antigas, e onde se erguem a Deus as orações e louvores dos cristãos leceiros.
Também nesta Matriz podem admirar-se imagens de incontestável valor cultural e artístico, como a de São João Evangelista, de arte flamenga do século XVI, as de São Tiago e de Santa Apolónia, do século XVII, a do Sagrado Coração de Jesus, de estilo barroco, a do Senhor preso à coluna – o Ecce Homo – do século XVI, e, acima de todas, a imagem sem preço, tal o seu valor, a preciosa imagem e valiosíssimo tesouro escultórico, a que o povo chamou de “Senhora do Leite”, mas que é, efectivamente, de Nossa Senhora da Conceição. Esta imagem foi encomendada pelo rei de Portugal D. Afonso V, em 1481, a Diogo Pires - o Velho, de Coimbra, “santeiro ou mestre de imagens, insigne na sua arte”, como escreveu Frei Manuel da Esperança, e oferecida ao Convento da Conceição, onde foi colocada a 7 de Maio de 1483.
Desde 1834, ano da extinção, em Portugal, das Ordens Religiosas, até cerca de 1852, ano em que se supõe ter passado a ser venerada nesta Matriz, são notáveis a história e vicissitudes sofridas por esta imagem : mudanças de lugar, esconderijos, venda até. Com muito trabalho e aturada pesquisa de documentos, o ilustre historiador das coisas de Leça, Senhor Jorge Bento, tudo descreveu num dos seus livros – História da Imagem da Senhora da Conceição de Leça da Palmeira.
Leça da Palmeira teve papel importante na “História Seráfica da Ordem dos Frades Menores de São Francisco”. Frei Manuel da Esperança escreveu àcerca do surgimento, em 1392, dos Frades Menores de São Francisco a Norte do Rio Douro: “ Não estava bem despedido o ano de 1392 quando o Servo de Deus Fr. Gonçalo Marinho (...) veio fundar Oratório no Bispado do Porto, numa ermida pobre do Glorioso São Clemente”. Daqui se infere que antes de 1392 já existia uma ermida de São Clemente. A partir de então pode dizer-se que os primeiros frades franciscanos edificaram o pequeno Mosteiro de São Clemente das Penhas, alcandorado sobre rochas, junto ao mar, no lugar hoje chamado da Boa Nova.
Sendo lugar agreste, batido pelas ondas que por vezes alagavam toda a casa, diz a História Seráfica: “local deserto e sem regalo, disposto só para fazer penitência”. E porque a frágil construção foi sendo destruída pelo mar e tempestades, depois de ali viverem 83 anos, os frades construíram um novo e forte edifício conventual, na Quinta da Granja, doada por um benfeitor. Para lá se mudaram os frades em 4 de Outubro de 1481. E em homenagem a Nossa Senhora, foi o convento chamado DA CONCEIÇÃO. Por causa da já citada extinção das Ordens Religiosas em 1834, os Franciscanos estiveram ausentes de Leça da Palmeira, mas regressaram em Outubro de 1918.
Sem desmerecimento dos seus antepassados, hoje honramo-nos de poder contar com o seu inestimável contributo à missionação pastoral e caritativa. Por tudo isto, é de toda a justiça que se dê relevo à presença franciscana em Leça da Palmeira, dado que faz parte importante da história desta Paróquia.
Leça da Palmeira foi, desde sempre, berço natal de muitos homens ilustres pela cultura, inteligência, altruísmo e nobreza de carácter. Dos livros de Jorge Bento poderíamos retirar muitos nomes; mas não os citamos para que não aconteçam involuntárias omissões. Aliás, os seus nomes tornaram-se imorredoiros nalgumas ruas e monumentos desta Leça que os não esqueceu. Com encomiásticas palavras se referiram a esta terra algumas figuras gradas das letras portuguesas, como Ramalho Ortigão, em “Praias de Portugal”, Camilo Castelo Branco, em “Duas Horas de Leitura”, Antero de Figueiredo, nas suas “Jornadas em Portugal”, António Correia de Oliveira, em “Parábolas” e, como não poderíamos deixar de citar, sem grave omissão, o grande poeta do “SÓ” – António Nobre, que cá viveu na casa nº 12 da Viela do Castelo, e não se cansou de cantar Leça em poemas de inconfundível sabor lírico, terra que veio a receber, também, os seus restos mortais, no Cemitério nº 1, onde jazem.
Dentre os homens ilustres de Leça da Palmeira, não poderíamos deixar de dar relevo, também, ao seu historiador, Senhor Jorge Bento, que em vasta bibliografia deu a conhecer as belezas, os factos e as figuras notáveis de Leça da Palmeira, a sua terra que amou como ninguém e deu disso um claro testemunho em quase três dezenas de livros, cujos temas são exclusivamente referidos a Leça da Palmeira,. Ele foi muito justamente distinguido pelo Município, com o título de “Cidadão Honorário de Matosinhos- Leça da Palmeira”. Em Leça viveram, também, artistas de renome, como o pianista e compositor Armando Leça, aqui nascido; e Óscar da Silva, também grande pianista e compositor, a quem o poeta Jorge Condeixa chamou “o enamorado de Leça”. Dos finais do século XIX até meados do século XX, paroquiaram Leça da Palmeira dois sacerdotes que merecem nesta resenha monográfica menção especial. Referimo-nos ao virtuoso e culto Abade Mondego, já atrás ocasionalmente citado, ainda hoje muito lembrado por alguns paroquianos mais idosos; e o Padre Alcino Vieira dos Santos que foi Pároco durante 33 anos. A ele se deveu a restauração exterior desta Matriz em 1945, e em 1965 a do seu interior. Em Março de 1953 fundou o Jornal A VOZ DE LEÇA. De 1954 a 1958 empreendeu a construção do Salão Paroquial. Entre 1957 e 1959 promoveu a construção de 32 casas, até hoje a única obra de habitação social atribuída a famílias carenciadas. Finalmente, de 1969 a 1978 ampliou o Salão Paroquial, logística fundamental para a prática da Catequese.
Resignou em 22 de Dezembro de 1978 e faleceu em 23 de Março de 1996. Foi um sacerdote de grande cultura e com enorme facilidade de expressão e comunicabilidade social. Deixou-nos um seu notável homiliário, recolhido por Jorge Bento em livro sob o título “ECOS DUMA VIDA”
Cabe aqui mencionar, também, o seu irmão, Padre Elísio Vieira Santos, já falecido. Como o seu irmão, foi também um homem muito culto, a quem se deveu a tradução para português, dos antiquíssimos documentos, em latim antigo, da História da Matriz Paroquial de Leça da Palmeira.
Tem sido considerável o crescimento demográfico de Leça da Palmeira, nas duas últimas décadas. Actualmente com uma população superior a 20 000 habitantes e com sensível aumento da actividade económica, na Indústria como no Comércio e dos Serviços, houve um forte reflexo nas necessidades pastorais.
Uma das grandes preocupações do Pároco, Revº Padre Fernando Cardoso de Lemos, desde a sua tomada de posse em Dezembro de 1978, foi precisamente a necessidade de incrementar a acção evangelizadora, estendendo-a aos lugares mais afastados ou de mais recente implantação local, para o que empreendeu a construção duma capela na recente Comunidade de Monte Espinho, a mais distante do centro da Paroquia e resultante da referida expansão demográfica.
Ao Padre Lemos se deve o cuidado da manutenção do património paroquial, tendo sido operado o restauro das capelas da Boa Nova (São Clemente das Penhas), de Santa Catarina, do Corpo Santo, de Sant’Ana e, actualmente em recuperação, a da Senhora da Piedade; e ainda restauros e reparações no interior e exterior da Igreja Matriz.
Da sua acção evangelizadora resultaram: os Grupos de Pagens do Santíssimo Sacramento, um primeiro da Matriz e, posteriormente, idêntico Grupo da Capela de Monte Espinho, a Assembleia Paroquial de Jovens, o Grupo de Acólitos da Capela de Monte Espinho, o Coro da mesma Capela, o Caminho Neocatecumenal, a reposição da Visita Pascal e das Procissões do Senhor dos Passos, do Senhor Morto e do Corpo de Deus. Iniciaram-se, ainda, as Procissões de Velas de 12 de Maio e 12 de Outubro e, em parceria com a Paróquia de Matosinhos, a anual Procissão do Senhor de Matosinhos.
Na área da Liturgia, a Paróquia conta com 28 Ministros Extraordinários da Comunhão, a Associação de Acólitos, os já referidos Grupos de Pagens do Santíssimo Sacramento, 5 Coros litúrgicos e as Confrarias de São Miguel, das Almas, do Santíssimo Sacramento, do Senhor dos Passos e as Irmandades de Nossa Senhora de Fátima, da Matriz e da Capela de Monte Espinho.
Na área sócio – caritativa tem a Paróquia as Conferências Masculina e Feminina de São Vicente de Paulo e a STELLA MARIS – Obra de Apostolado do Mar, que tem a direcção espiritual do Revº Padre Lemos.
Quanto ao ensino de cultura religiosa, conta a Paróquia com um qualificado Grupo de Catequistas, que ensina e orienta as várias classes de catecismos, para várias dezenas de crianças.
No que concerne à cultura social, tem Leça da Palmeira Jardins de Infância, Escolas do Ensino Básico e Liceal, um muito apreciado Grupo Paroquial de Teatro, o cinquentenário Jornal “A Voz de Leça”, o já antigo e internacionalmente conhecido Rancho Típico da Amorosa e várias Colectividades de Recreio e Desporto.
Devemos, ainda, dar especial relevância ao facto de ter esta Paróquia a inestimável colaboração do Reverendo Padre João Santos, sacerdote jesuíta, filho desta terra onde mantém estreitos laços familiares, cujas homilias são por demais apreciadas pelo seu saber e notável dom de palavra.
Uma última referência e de não menor importância à existência em Leça da Palmeira da Corporação dos Bombeiros Voluntários Matosinhos- Leça, que tão relevantes serviços presta à Comunidade e a toda a Região Norte- Duriense.

Filipe Pacheco