Leça da Palmeira Antropológica - XI

Integrado no ciclo de visitas às “Sete Maravilhas de Leça da Palmeira” guiámos, com grande orgulho, a convite do Dr. Luís Soares da Junta de Freguesia, a referente à nossa Igreja Matriz.
Na preparação da referida visita consultámos diversa documentação que nos permite referir que em Leça da Palmeira terá existido primitivamente um templo de pequenas dimensões, e que durante muito tempo se julgou poder ser idêntico à Igreja Românica de Cedofeita, até pelas ligações a D. Mafalda, sua patrona, que em 1222 doou os seus direitos (impostos) sobre a nossa igreja ao Convento de Arouca.
Contudo, segundo informação do Sr. Padre Lemos, quando de uma das últimas obras, foram postas a descoberto nas paredes laterais da Capela – Mor duas janelas antigas, em tudo semelhantes às existentes na Capela de Santa Catarina, o que o levou a concluir deverem ser do templo primitivo, e logo o nosso primeiro templo poder ser idêntico àquela Capela.
O templo primitivo nunca seria grande quer pela dimensão do povoado quer ainda porque em Leça sempre houve muitas capelas; nomeadamente a da Boa – Nova (oratório de São Clemente das Penhas, antes de 1369), de Santa Catarina, de Sant’Ana, do Corpo Santo, da Senhora de Piedade ou do Espírito Santo, de São Francisco, do Ruas ou do Sagrado Coração de Jesus, para além das desaparecidas, de São Sebastião (em frente à igreja) de São Roque (em Gonçalves), da Senhora da Apresentação ou da Ponte, e da Nossa Senhora das Necessidades, à entrada do Convento da Conceição.
A construção da Igreja Matriz de Leça da Palmeira não apresenta um estilo definido, pois foi evoluindo na sua forma ao longo dos anos, sendo “…tradição que a mandou fazer o Senhor Rei Dom Sebastião”. Assim respondeu em 1758, o nosso pároco as “Memórias Paroquianas” ordenados pelo Marquês de Pombal.
Assim, partindo de um pequeno templo já antes de 1222, existente no mesmo local, encontramos referência, cerca de 1570, à construção da capela-mor, com o tecto apainelado, o corpo da igreja de proporções similares às de hoje, com duas naves laterais mais baixas que a central, obrigando a um telhado com três águas, com menor pé-direito, sacristia só com o compartimento que dá acesso à capela – mor. Campanário do lado sul, em muro baixo com um sino ou dois.
Em 1648, conforme registado na padieira da porta de acesso à sacristia, foi a capela – mor e frontispício revestidos a azulejos tricolores.
Em 1681, foi construída a capela, actualmente do Sagrado Coração de Jesus, à data dedicada a São José (depois de Santa Quitéria e de São Lourenço) a mando do Abade Manuel de Oliveira, para sua capela mortuária e de seus sucessores, conforme lápide existente na parede da mesma.
Esta capela tem uma cripta, fazendo-se o acesso por uma escada de pedra através de uma abertura no pavimento. Contava-se que no tempo do Abade Mondego a cripta teria sido aberta e ao fundo da escada estaria um esqueleto na posição de sentado. Ora já no tempo do Sr. Padre Lemos a cripta voltou a ser aberta e de facto os ossos do esqueleto lá estavam tendo sido acondicionados da forma e com o respeito que merecem e depositados no esquifo respectivo.
Em 1735 foram efectuadas grandes obras tendo sido desfeitas paredes laterais e refeitas com quatro palmos de largura, apeada a cimalha da nave central e construídas novas paredes até à altura necessária para dar saída à água, ficando o telhado com duas abas iguais. Foram colocadas as partes de cantaria na fachada e quatro pirâmides nos quatro cunhais.
A sacristia é aumentada para sul e a torre existente, a sul, é elevada até ao algeroz e daí para cima tem três sineiros.
Existe uma placa na sacristia referindo estas obras como tendo sido realizadas em 1790, o que está errado pois o padre que as mandou fazer faleceu em 1744.
Entre 1735 e 1737, foi construída pela respectiva confraria, a Capela do Senhor dos Passos.
Entre 1770 e 1778, foi feita a ampliação da capela-mor e a elevação do arco cruzeiro, o que motivou a perda dos azulejos aí existentes, bem como dos caixotões do tecto que passou a ser em abóbada revestida a madeira e com um bonito remate de talha dourada.
Em 1812, de referir o melhoramento da torre sineira que passou a ter quatro sinos.
Em 1873, temos a grande reforma mandada fazer por João Pinto de Araújo, o mesmo que mandou erguer o miramar (castelinho) na foz do rio Leça e que hoje se encontra na nossa praia.
Construiu-se a torre norte, com relógio e um único sino. Foram rebocadas as paredes, colunas e arcos revestidos fingindo o mármore, bem como as paredes da capela-mor.
Foram mandados fazer dois portais mais ao fundo da igreja, para receberem dois retábulos.
Entre 1903 e 1931, foi acrescentado um salão a nascente da sacristia velha.
Em 1937, foram substituídos todos os taburnos (tampos) no pavimento e os grandes envidraçados em volta da igreja.
De 1945 a 1970, já no tempo do Sr. Padre Alcino Vieira, verificou-se o grande restauro da igreja, começando pelas paredes exteriores que foram devidamente rebocadas. O telhado revisto. As colunas e arcos picados e limpos, e tecto restaurado, restituindo-os à origem. Os púlpitos apeados e o baptistério, remodelado.
Do altar-mor foi removida a imagem da Senhora da Conceição de Leça da Palmeira. Reformado e enriquecido todo o retábulo - mor, onde se repôs o sacrário até aí no altar do Senhor dos Passos.
O trabalho do retábulo do altar – mor foi feito pelo mestre Guilherme Thedin.
De 1979 em diante, já com o Sr. Padre Lemos, temos a difícil missão de conservar todo o património paroquial, sendo tão difícil construir como conservar. Contudo, neste período foi feito todo o arranjo do adro, foram colocados mostradores de horas nas duas torres, e carrilhão de seis sinos na torre norte.
De referir que esta nossa igreja também tem provocado manifestações de arte tais como: um desenho feito por um súbdito inglês em 1826, no qual se representa um templo com portal manuelino, um cruzeiro e a capela de Sant’Ana, o que nos lavaria a concluir tratar-se de uma representação da Igreja Matriz; mas conversando com o Dr. J. Varela surgiu a hipótese de ser a igreja do Convento da Quinta da Conceição, o que merece ser analisado. Também os artesãos Sr. Macedo da Silva, de Gonçalves e Mestre Zé Cartaxo nos presentearam com belos exemplares de maquetas da Igreja; isto para além da representação medalhistica da autoria do Mestre Manuel Nogueira.
Visto o edifício em si, o interior fica para outra oportunidade.

Eng.º Rocha dos Santos in "A Voz de Leça" Ano LVI - Número 6 - Agosto/Setembro de 2009