Leça da Palmeira Antropológica - I

ANTROPOLÓGICA, foi o título e o tema de um trabalho escrito que apresentámos na disciplina de Antropologia do Espaço, ministrada pelo professor doutor Paulo Seixas, no Curso de Arquitectura e Urbanismo da Universidade Fernando Pessoa, que frequentámos no último ano.
Nesta disciplina em que são analisadas as transformações dos espaços, numa primeira parte sistematizou-se a informação teórica e etnográfica que constitui o património mais clássico da antropologia do espaço e cujos autores das respectivas obras contribuíram para a posterior problematização do espaço com objecto autónomo; o que leva numa fase posterior para a construção de um pensamento em que o espaço de facto se autonomiza enquanto objecto de estudo das ciências sociais.
Por fim analisando as problemáticas contemporâneas a partir de três propostas analíticas sobre o espaço que se tornaram referências inspiradoras e incontornáveis: as heterotopias de Foucault, os não-lugares de Augé e os ethnoscapes de Appadurai.
O espaço enquanto realidade social afirma o laço indissociável que se estabelece com a sociedade que o habita sendo que no nosso caso em apreço teremos que salientar como uma realidade dinâmica, com suporte de memórias, de memória colectiva, da mobilidade como factor de organização da cultura e do espaço da cidade; com a criação de novas centralidades, interligadas com a realidade em que se inserem, entendemos encontrar na nossa terra, Leça da Palmeira, todas as questões apresentadas na referida disciplina; e então inspirados no lema do porto de Leixões “Chegar e Zarpar” acrescentamos-lhe “Um Não-Lugar” que constituiu um dos temas da disciplina.
Adaptando o texto do nosso trabalho para ser publicado nesta última página de “A VOZ DE LEÇA”, é assim que surge o título do nosso trabalho Leça da Palmeira Antropológica, pois aqui encontrámos diferentes formas de ocupação ou utilização do espaço, características etnográficas dos seus naturais e de outros ocupantes, nomeadamente estrangeiros (ingleses e não só) e outros estranhos que por diferentes motivos aqui foram chegando, uns ficando outros partindo.
É aqui em Leça da Palmeira em cujo estuário do rio Leça, existe a arrojada obra hidráulica conhecida, no seu conjunto, pela designação de porto artificial de Leixões, considerado como um verdadeiro monumento de engenharia, cujas diversas e variadas instalações merecem atenta e demorada visita.
Leça da Palmeira na zona ribeirinha, foi embarcadouro de emigrantes e desembarcadouro de sardinha, um dos aspectos mais típicos, mais coloridos que ocorria quando pelas noites de Agosto à luz de archotes se descobriam dramáticas figuras de homens e mulheres do mar, cantando, leiloando, apartando os lotes, debruçadas e ajoelhadas.
Por entre esses xailes de varinas, que constantemente vivem com a água do mar pelos joelhos, a maré das lágrimas pelo coração, e os capotes do minhoto foragido para a miragem migratória, uma população feliz que assim foi vendo crescer essa grande obra, primeiro com os quebra – mar do porto de abrigo e depois com as sucessivas docas.

Engº Rocha dos Santos
in "A Voz de Leça" Ano LV - Número 6 - Setembro de 2008