Faz parte das tradições leceiras, chegado o mês de Junho, comemorar os Santos Populares, com mais forte incidência no S. João, sendo imprescindível para além dos bailaricos, fazer a cascata
Nas cascatas leceiras sobressaem as dos senhores José Moreira, nosso vizinho, e do João Soares. Duas cascatas movimentadas, com grande pormenor, representando cenas e pessoas da vida local, feitas com todo o cuidado e com a preocupação de tudo registar.
Não sabemos dizer como começaram as cascatas, mas que se trata de uma tradição muito antiga disso não temos dúvidas, pois já a nossa mãe Brízida contava como em casa do nosso avô Joaquim Rocha, era hábito armar a cascata.
Somos de opinião que as cascatas originais pretenderiam representar a cidade do Porto vista do lado de V.N. de Gaia, e que não será por acaso que os fabricantes dos bonecos ou “santinhos”, também conhecidos por “ mascateiros”, se situam em freguesias daquela cidade, como é o caso do mais conhecido actualmente, o senhor Zé Tuta.
Estes artífices escoavam os seus produtos para a cidade do Porto provavelmente tendo-os feito chegar a Leça, através da venda na Feira da Louça, durante as Festas do Senhor de Matosinhos.
O cenário estava montado pois podemos facilmente dizer que a topografia do Porto se assemelhava à de Leça da Palmeira, e com as figuras representativas ali à mão nada faltou, embora a rapaziada começasse por montar e desmontar a cascata à porta de casa com o intuito de pedinchar “um tostãozinho para o Santo António”, a fim de juntar alguns cobres e assim comprar mais uns bonecos, outros havia, como no nosso caso, em que a cascata era feita numa “caseta” existente no quintal, para o que cobríamos o espaço com carvalhos que íamos buscar para os lados de Camposinhos e com musgo apanhado na presa da Ramalhona, e areia fazendo as ruas, dávamos largas a uma manifestação artística com o seu quê de “naief”.
Assim lá no alto não podia faltar a igreja com o trono para os santos, ocupando cada um deles a posição central até ao seu dia. Cá em baixo um lago com água, talvez representando o rio Leça, que por vezes até com repuxo, e em volta “jorra” que o nosso pai Moisés, ia buscar à linha de Leixões. Uma ponte, emitando a de Pedra, as lavadeiras, a azenha do moleiro, o pescador; um pouco mais acima um castelo, nem mais nem menos o Forte de Nossa Senhora das Neves e estrategicamente colocados no espaço lá apareciam as figuras representando as artes, tradições, usos e costumes – o polícia a prender a leiteira, o sapateiro, um moinho de vento, uma “rifa”, bailarico popular um largo, que bem poderia ser o das Icas, onde não falta o homem a subir ao mastro tentando ganhar o prémio que está lá em cima - um bacalhau, uma regueifa e uma garrafa de vinho.
A parte agrícola também aqui não era esquecida e lá aparece o homem da croça, o pastor e os seus rebanhos de ovelhas, etc.
Que mais queremos para dizer que uma cascata tradicional representa Leça da Palmeira da igreja até ao mar? Atrevemo-nos a responder, nada, pois está cá tudo.
No caso do sr. João Soares, que foi um artista de inegáveis qualidades, nas horas vagas da sua profissão de alfaiate, dedica-se a fazer bonecos, casas e tudo mais que uma cascata insere.
Esta costumava ser visitada por numerosas crianças e por individualidades ligadas à vida artesanal, etnográfica, etc. A sua casa era um verdadeiro museu da “sua” arte. De resto herdou o jeito e a cascata de seu pai, Francisco Soares, portageiro da APDL e que se evendiciou com as miniaturas de barcos.
Devemos aqui dizer que o sr. João Soares faleceu em 2006, e que de seu pai nos recordamos de ver sempre de canivete, esculpindo pequenas peças para os seus barcos, dos quais possuímos um.
Também queremos referir aqui a cascata do sr. José Moreira que ao longo dos anos vai recriando os diferentes espaços de Leça, como a própria praia, com farol, castelinho as barracas das banheiras e as dos banhistas. A igreja de Leça e a Procissão dos Passos; a Capela do Corpo Santo, etc. O sr. José Moreira procurou sempre nas suas representações dar-lhe autenticidade e verdade histórica chegando as procissões a parecerem as do tempo do António das Cardosas, com os estandartes, os anjinhos, os andores, as confrarias e até a banda de música, e todas com o traje que antigamente era obrigatoriamente usado com todo o rigor nas procissões leceiras, com fato preto e sapatos a condizer.
O Rancho Típico da Amorosa tem vindo a efectuar o concurso anual das cascatas e que permite manter acesa a chama da tradição que cada um de nós leceiros não deve deixar apagar.
Eu, por mim respondo, fazendo todos os anos a minha cascata de modo tradicional com “santinhos” de barro procurando divulgar esta tradição, e para que conste aqui fica o registo de algumas destas cascatas.
Nas cascatas leceiras sobressaem as dos senhores José Moreira, nosso vizinho, e do João Soares. Duas cascatas movimentadas, com grande pormenor, representando cenas e pessoas da vida local, feitas com todo o cuidado e com a preocupação de tudo registar.
Não sabemos dizer como começaram as cascatas, mas que se trata de uma tradição muito antiga disso não temos dúvidas, pois já a nossa mãe Brízida contava como em casa do nosso avô Joaquim Rocha, era hábito armar a cascata.
Somos de opinião que as cascatas originais pretenderiam representar a cidade do Porto vista do lado de V.N. de Gaia, e que não será por acaso que os fabricantes dos bonecos ou “santinhos”, também conhecidos por “ mascateiros”, se situam em freguesias daquela cidade, como é o caso do mais conhecido actualmente, o senhor Zé Tuta.
Estes artífices escoavam os seus produtos para a cidade do Porto provavelmente tendo-os feito chegar a Leça, através da venda na Feira da Louça, durante as Festas do Senhor de Matosinhos.
O cenário estava montado pois podemos facilmente dizer que a topografia do Porto se assemelhava à de Leça da Palmeira, e com as figuras representativas ali à mão nada faltou, embora a rapaziada começasse por montar e desmontar a cascata à porta de casa com o intuito de pedinchar “um tostãozinho para o Santo António”, a fim de juntar alguns cobres e assim comprar mais uns bonecos, outros havia, como no nosso caso, em que a cascata era feita numa “caseta” existente no quintal, para o que cobríamos o espaço com carvalhos que íamos buscar para os lados de Camposinhos e com musgo apanhado na presa da Ramalhona, e areia fazendo as ruas, dávamos largas a uma manifestação artística com o seu quê de “naief”.
Assim lá no alto não podia faltar a igreja com o trono para os santos, ocupando cada um deles a posição central até ao seu dia. Cá em baixo um lago com água, talvez representando o rio Leça, que por vezes até com repuxo, e em volta “jorra” que o nosso pai Moisés, ia buscar à linha de Leixões. Uma ponte, emitando a de Pedra, as lavadeiras, a azenha do moleiro, o pescador; um pouco mais acima um castelo, nem mais nem menos o Forte de Nossa Senhora das Neves e estrategicamente colocados no espaço lá apareciam as figuras representando as artes, tradições, usos e costumes – o polícia a prender a leiteira, o sapateiro, um moinho de vento, uma “rifa”, bailarico popular um largo, que bem poderia ser o das Icas, onde não falta o homem a subir ao mastro tentando ganhar o prémio que está lá em cima - um bacalhau, uma regueifa e uma garrafa de vinho.
A parte agrícola também aqui não era esquecida e lá aparece o homem da croça, o pastor e os seus rebanhos de ovelhas, etc.
Que mais queremos para dizer que uma cascata tradicional representa Leça da Palmeira da igreja até ao mar? Atrevemo-nos a responder, nada, pois está cá tudo.
No caso do sr. João Soares, que foi um artista de inegáveis qualidades, nas horas vagas da sua profissão de alfaiate, dedica-se a fazer bonecos, casas e tudo mais que uma cascata insere.
Esta costumava ser visitada por numerosas crianças e por individualidades ligadas à vida artesanal, etnográfica, etc. A sua casa era um verdadeiro museu da “sua” arte. De resto herdou o jeito e a cascata de seu pai, Francisco Soares, portageiro da APDL e que se evendiciou com as miniaturas de barcos.
Devemos aqui dizer que o sr. João Soares faleceu em 2006, e que de seu pai nos recordamos de ver sempre de canivete, esculpindo pequenas peças para os seus barcos, dos quais possuímos um.
Também queremos referir aqui a cascata do sr. José Moreira que ao longo dos anos vai recriando os diferentes espaços de Leça, como a própria praia, com farol, castelinho as barracas das banheiras e as dos banhistas. A igreja de Leça e a Procissão dos Passos; a Capela do Corpo Santo, etc. O sr. José Moreira procurou sempre nas suas representações dar-lhe autenticidade e verdade histórica chegando as procissões a parecerem as do tempo do António das Cardosas, com os estandartes, os anjinhos, os andores, as confrarias e até a banda de música, e todas com o traje que antigamente era obrigatoriamente usado com todo o rigor nas procissões leceiras, com fato preto e sapatos a condizer.
O Rancho Típico da Amorosa tem vindo a efectuar o concurso anual das cascatas e que permite manter acesa a chama da tradição que cada um de nós leceiros não deve deixar apagar.
Eu, por mim respondo, fazendo todos os anos a minha cascata de modo tradicional com “santinhos” de barro procurando divulgar esta tradição, e para que conste aqui fica o registo de algumas destas cascatas.
Eng.º Rocha dos Santos in "A Voz de Leça" Ano LVI - Número 5 - Julho de 2009