Leça da Palmeira Antropológica - VIII

















O mercado de Matosinhos é por si só um ícone no horizonte próximo quando os leceiros olham para o outro lado das instalações portuárias.
Assim tal edifício levou-nos a uma vez mais, abordarmos e desenvolvermos um tema de interesse local num trabalho teórico da disciplina de Reabilitação de Edifícios superiormente ministrado pelo Arquitecto Manuel Cerveira Pinto do Curso de Mestrado Integrado que frequentámos na Universidade Fernando Pessoa.
Ora, o mercado municipal esteve desde 1855 destinado a nascer em Leça da Palmeira para o que foram feitas várias diligências ao longo do tempo, até que em 1884, a Câmara deliberou a construção da praça do mercado que ficava localizado do lado poente do actual com uma forma quase triangular. Porém, esta construção nem todos satisfazia pois para além dos preços elevados de aluguer das barracas também as condições de segurança deixavam a desejar.
Deste modo em 1939 a Câmara decide lançar um concurso de ideias para um novo mercado, o qual abrangeria os terrenos entre a Rua de Conde S. Salvador e Avenida Marginal para o que houve que proceder à expropriação de vários prédios nomeadamente a antiga Capela de Santo Amaro localizada junto à actual entrada principal do mercado e cuja frontaria se encontra a ser reposicionada à saída da ponte móvel num arranjo urbanístico de organização do espaço.
O concurso foi ganho por um gabinete do Porto, o ARS - arquitectos, propriedade dos arquitectos Cunha Leão, Morais Soares e Fortunato Cabral


















e que na época foram autores de imensos trabalhos em Matosinhos, nomeadamente o projecto do Hotel Porto Mar e o de diversos edifícios de habitação e o de algumas fábricas de conservas.
Apesar de o projecto ter sido adjudicado em 1939 ao gabinete ARS – arquitectos a obra só foi iniciada em 1944 por dificuldades surgidas com as expropriações.
O mercado municipal tem a sua fachada principal voltada para Leça da Palmeira, é disposto em dois pavimentos, aproveitando o declive do terreno, sendo o inferior para a zona do peixe e o superior mercado geral (hortaliças, frutas, etc.). Esta divisão é marcada por um atravessamento transversal automóvel de serventia aos dois pisos permitindo a descarga de todas as mercadorias a partir do interior.
A cobertura da nave é constituída por uma abóbada parabólica delgada, em betão, dividida por lanternins de vidro assentes sobre peças pré-fabricadas. Tem 38metros de corda, 11 metros de fachada e 7cm de espessura, apoiando-se em vigas com a forma de arcos parabólicos que constituem a estrutura resistente de todo o edifício.
O estudo desta abóbada foi conseguido de forma a obter no cálculo as secções mais económicas com um mínimo de ferro, então muito inflacionado pela situação de conflito que constituía a II Guerra Mundial, o que levou até a que fosse equacionada a hipótese da construção provisória de uma cobertura em madeira, o que felizmente não foi concretizado pois as vantagens económicas eram insignificantes.
O nosso mercado constitui uma magnífica demonstração das possibilidades da arquitectura moderna e foi construído pelo empreiteiro matosinhense Luís José de Oliveira, sob a direcção técnica do Eng.º Luís José de Oliveira Júnior. Obra arrojada e pioneira apoiou-se à semelhança do que já se fazia noutros países, na aplicação de novos materiais como o betão armado.
Debaixo do piso superior estão localizadas as arrecadações, as instalações frigoríficas e outras. No seu contorno tem lojas independentes voltadas para o exterior.
O mercado foi inaugurado em 1952, com toda a pompa e circunstância pelo então Presidente da República General Craveiro Lopes, e ainda hoje se mantém cerejado, operacional acolhendo e convidando todos aqueles que gostam de se abastecer de produtos frescos e de qualidade.

Eng.º Rocha dos Santos in "A Voz de Leça" Ano LVI - Número 3 - Maio de 2009